Tradicionalmente uma empresa mais açucareira que o mercado, a gigante do setor de açúcar e etanol Raízen prevê elevar para 55% a destinação de cana para a produção do adoçante, em um momento em que a desvalorização da moeda no Brasil favorece negócios com o produto frente a concorrentes como Índia, Tailândia e Austrália.

A afirmação é do presidente-executivo da Raízen, Ricardo Mussa, que está completando um mês no posto, numa situação jamais imaginada em tempos de coronavírus.

Mussa, que atua no grupo Cosan –uma das donas da Raízen, juntamente com a Shell–, desde 2007, ressaltou que apesar dos desafios a empresa está preparada para uma grande safra de cana no centro-sul do Brasil, que tem mostrado “boas produtividades” em seu início.

Ele contou, em entrevista à Reuters por meio de videoconferência, que a empresa colocou em atividade, na última terça-feira, a última usina planejada para operar na temporada 2020/21.

A companhia, maior produtora global de açúcar e etanol de cana, projeta operar com 23 das suas 26 usinas no atual ciclo –três estão hibernadas para maximizar as operações das demais.

E, dessa forma, em uma safra até o momento beneficiada por condições climáticas normais, a empresa prevê moer até 63 milhões de toneladas de cana, ante 59,6 milhões no ciclo anterior –o total a ser processado pela Raízen gira em torno de 10% da safra do nacional.

“A previsão de moagem da Raízen continua no mesmo patamar, o que poderia interferir seria algum problema de coronavírus, mas estamos nos preparando…”, disse ele, pontuando que até o momento a empresa não registrou casos da doença em sua unidade de açúcar e etanol.

Ele ressaltou que a companhia aproveitou bons momentos anteriores no mercado de açúcar e de câmbio para fixar vendas ante os contratos futuros do açúcar, e já travou cotações para 85% do seu volume da commodity.

Com isso, a empresa está confortável para elevar o mix de cana para açúcar de 49% em 2019/20 para 55% em 2020/21, um movimento que deverá ser registrado no mercado em geral, mas que beneficia especialmente a Raízen, que tem tradição de ser mais açucareira.

“Este ano todo mundo está indo pra produzir mais açúcar, já viramos nosso sistema todo para maximizar a produção de açúcar”, afirmou ele, ressaltando que o consumo global do adoçante sofrerá bem menos que o de etanol.

No mercado interno, a Raízen, que também é uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, ainda está vendo uma lenta recuperação do consumo, devido às medidas de isolamento para combater o coronavírus.

Ele disse que a queda na demanda de gasolina e etanol ainda está em torno de 45% a 50%.

Mas, mesmo para o etanol, que não tem uma bolsa para fixar preços futuros, a Raízen conseguiu se proteger, por meio de hedge nos contratos futuros da gasolina no exterior.

“A gente já vinha fazendo um trabalho de gestão de risco muito bom, fizemos uma fixação de preços muito boa, 85% da safra de açúcar já fixada, mas fizemos algo que ninguém fez, foi fixar o etanol… fizemos fixação do produto equivalente, que é a gasolina.”

“Quase 50% da safra de etanol já está fixada, e o impacto em termos do preço este ano é menor que a média de mercado”, comentou.